‘Ser Sustentável’ furou a bolha e promoveu um encontro cheio de afeto e bons pensamentos

Sabem o que foi melhor na roda de conversa que marcou o lançamento do meu livro – “Ser Sustentável”, editado pela Pirilampo?

Tudo.

Sério, não consigo elencar um melhor momento. E já me explico.

Começou com uma fala generosa da amiga Samyra Crespo, ambientalista de longas décadas, ex secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira (2002). Ela tinha me pedido uns highlights sobre mim. Mandei-lhe algumas dicas, que ela transformou numa biografia linda.

E Samyra olhou em volta e se apresentou.

Lembrei-me dos tantos encontros, seminários, conferências, dos quais participamos, onde Samira não precisava se apresentar. Todos nos conhecíamos. Mas ali, naquele pequeno e acolhedor espaço da Casa 11 (livraria que abraçou o projeto), porém, eram outros olhares atentos, de pessoas que não necessariamente estão envolvidas com o tema da sustentabilidade, Portanto, estávamos furando uma bolha! (Para usar a linguagem do momento).

E toca de chegar gente.

Eu, que tinha o maior medo de não ir ninguém, já começava a me preocupar porque o espaço não seria suficiente. Vejam só!

Aqui, vale uma explicação. Quando me formei, e logo depois comecei a trabalhar com jornalismo, eram poucos os colegas que assinavam suas reportagens. Só os especiais. Passado um tempo (ok, um longo tempo), chega-se ao momento presente, quando as reportagens, muitas vezes, só são lidas a depender de quem as escreve.

Não estou fazendo uma crítica, só revelando a mudança. E pontuo a mudança também para dizer que não fui acostumada a estar à frente das câmeras. Com meu caderninho de notas, minha caneta e curiosidade, colho as informações e as transformo em notícias. Hoje, já é diferente. Preciso da audiência, quero me firmar como uma pessoa que consegue fazer isso e mais: juntar as informações com a leitura de alguns autores e costurar uma análise.

Voltando à tarde/noite do lançamento, eis-me ali, toda prosa porque sentia, em cada olhar, o interesse pelas informações que eu espalhava. Dizem que Baruch Spinoza, o filósofo do século XVII, afirmava que conhecimento é o único bem que se pode transmitir sem perder. Não é?

E, claro, quanto mais pimpona eu me sentia, mais vontade de contar minhas histórias eu tinha. E falava, falava, falava. Havia vizinhos à minha volta, pessoas com quem esbarro diariamente nessa taba que é meu bairro. E amigos jornalistas, com quem dividi muitos espaços de trabalho. Aquilo tudo ia me deixando quase tonta de tanta alegria. Senti calor, pedi à Ana, uma das sócias da Casa 11, para ligar o ar condicionado. Fazia frio lá fora, mas ali dentro havia calor humano. Que delícia.

Emanuel Alencar, outro jornalista, agora também um militante das causas ambientais, lançou-me uma provocação. “Por que Ser Sustentável, se a sustentabilidade virou uma palavra quase vulgar?”. Ele tem toda razão! Vulgarizaram o sentido da palavra. Foi uma deixa para eu contar mais uma história: quando eu era editora do caderno Razão Social, talvez o primeiro sobre o tema a sair como suplemento em um grande veículo – o jornal O Globo – a palavra sustentabilidade não cabia em título. Uma vez levei uma bronca do profissional que desenha as páginas dos jornais – na época se chamava diagramador, hoje é designer – que me disse: “Amelia, se você escrever sustentabilidade no título ninguém vai querer ler a matéria. Ninguém sabe o que é isso!”.

Pois é. Duas décadas depois, e cá estamos debatendo sobre a vulgaridade do termo. O tempo passa rápido demais, e tem carregado com ele, como ondas de tsunami, nossa capacidade de fazer hiato. De pensar antes de responder, de sentir o entorno, as nuances.

“Quando pensei no nome Ser Sustentável eu quis contrapor, em parte, ao nome ‘Razão’. Hoje sou mais uma pessoa que aposta nos sentidos. Quero Ser, muito mais do que Ter coisas”.

Foi assim que respondi.

E não é que a minha resposta ficou reverberando em Ana Maria, a vizinha bacana, fonoaudióloga das boas? No dia seguinte ela me ligou logo pela manhã, dizendo que não parava de pensar sobre tudo o que foi dito e conversado. E quer abrir grupos para conversar mais sobre Ser e Ter.

Adivinhem se eu não estou até agora pulando de alegria?

Mas teve momentos também de defender a COP30. Ora bolas, se as COPs têm sido espaços onde imperam a retórica inútil, sem resultados práticos para quem sofre com os eventos extremos causados pelas mudanças do clima, não será justamente quando ela acontece no Brasil que vai merecer tantas críticas. Ah, não! Mesmo que sejam críticas embasadas, como faz o professor José Eli da Veiga em suas colunas no jornal “Valor Econômico”.

Também acho que o modelo encontrado pelas Nações Unidas há 30 anos para pôr em debate as mudanças do clima precisa ser revisto. Mas vamos começar a fazer isso no ano que vem, combinado?

E, por favor, chega dessa conversa fiada sobre falta de alojamentos em Belém, cidade que está sendo preparada para abrigar a COP. Muitas comitivas querem um quarto para cada negociador! Por mais que estejam levando, ás vezes, um número muito superior ao necessário para os trabalhos. Ninguém pode dividir quarto?

Nessa hora, a competente jornalista, amiga de sempre, Denise Assis, lembrou-se de uma entrevista que fizera para o site Brasil 247, do qual é colunista. Ela convidou Valter Correia,  secretário extraordinário da COP-30, que afirmou apostar no sucesso do evento e garantiu que as obras estão em andamento. Tudo certo, portanto.

Fico pensando se a atitude dos negociadores já não explica parte do imbróglio que estamos vivendo.

Nessa esteira do pensamento, lembrei-me do Papa Francisco e sua encíclica Laudato Si, lançada em 2015. Com todas as letras, em 246 aforismos, o pontífice recomendou: “É preciso diminuir produção e consumo”.

E teve também o momento quase tenso, em que se falou sobre responsabilidades. Ou respons-habilidades, como prefere uma das minhas autoras preferidas da atualidade, a Donna Haraway, que escreveu “Ficar com o problema”. A amiga jornalista Olga de Mello – que graciosamente fez a primeira revisão do meu livro, embora por uma trágica distração seu nome não tenha constado do expediente –  lembrou bem que, embora seja uma pessoa ligada às questões climáticas e uma cidadã consciente a ponto de diminuir seu tempo de banho, tem críticas quanto ao abuso dos recursos naturais por parte da indústria.

Lembra Donna Haraway, corroborando o que disse Olga de Mello, que “precisamos uns dos outros em colaborações e combinações inesperadas, e amontoados quentes de composto”. Um jeito um pouco rebuscado de dizer que todo mundo precisa entrar na grande concertação mundial convocada por Papa Francisco: precisamos baixar produção e consumo. Globalmente.

Pode ser ruim para a economia mundial? Pode. Merece, portanto, mais conversa e mais especialistas que ofereçam modelos melhores.

Já caminhando para o final por conta da hora, eu sentia ainda o pulsar da curiosidade em cada um dos que ali estavam. Mas aprendi que a gente precisa guardar um pouco o gostinho de quero mais. E, tentando não ser imperativa – não, principalmente nesses tempos de imperadores patifes e fascínoras! – declarei:

“Hora de brindarmos com um vinhozinho branco que eu trouxe!”

Eu não bebo mais vinho porque essa bebida anda me afastando da alegria e do vigor, por menos que eu a consuma. Mas gostei de ver as pequenas taças com um tanto da bebida dos deuses, consagrando nosso momento tão mágico. E depois, é claro, teve a saideira no Esperança Eco, restaurante simpático aqui das vizinhanças que tem um samba excelente às sextas-feiras. Nossa resistência que acabou em arte, em música. Foi bom demais.

Quero de novo! E de novo, e de novo. Agora me empolguei de verdade.

Quem quiser adquirir o livro, é só ir ao site da Editora Pirilampo, do também generoso amigo e vizinho José Mario Carvão, sem o qual não seria possível editar o livro. Ele se empenhou de todas as formas, com oficinas e diagramadores, fez o desenho da capa, e voilá! Ei-lo: https://www.editorapirilampo.com.br/produtos/ser-sustentavel-amelia-gonzalez/?srsltid=AfmBOoq3hMuceZWRGs8oowJi7dKj_0bTV4pl7c724IkjRT1_jrOQMCn-

Até nosso próximo encontro! Fiquem com as fotos, tiradas pelo amigo Custodio Coimbra. Os arquivos de outras fotos lindas tiradas pelo vizinho e amigo Jomar Carvalho Filho não couberam aqui, mas estou resolvendo isto. As fotos mostram um pouco o ambiente aconchegante que descrevi aqui.

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About ameliagonzalez848

Produtora de conteúdo. Jornalista especializada em sustentabilidade. Ajudou a criar e editou durante nove anos o caderno Razão Social, suplemento do jornal O Globo, sobre sustentabilidade, que foi extinto em julho de 2012. Assinou a coluna Razão Social do caderno Amanhá, de O Globo. Autora do livro `Porque sim`, sobre casos de sucesso da ONG Junior Achievement. Ganhou o premio Orilaxé, da ONG Afro Reggae. Esteve entre as finalistas como blogueira de sustentabilidade no premio Greenbest com o blog Razão Social, que foi parte do site do jornal O Globo de 2007 a 2012. Foi colunista do site G1 de 2013 a 2020, assinando o blog Nova Ética Social. Estuda os filósofos da diferença, como Fredrick Nietzsche, Gilles Deleuze, Spinoza, Henri Bergson em grupos de estudo no Instituto Anthropos de Psicomotricidade. Crê na multiplicidade, na imanência, na potência do corpo humano e busca, sempre, a saúde. Tem um filho, um cachorro.
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2 Responses to ‘Ser Sustentável’ furou a bolha e promoveu um encontro cheio de afeto e bons pensamentos

  1. Avatar de Maria Helena Miessva Maria Helena Miessva disse:

    Adorei a descrição do lançamento! Vou adquirir o livro, mas queria tanto uma dedicatória … Entretanto, fica o sonho de um dia lançar o livro por essas bandas portuguesas do Porto ou Lisboa!

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