Na primeira semana de fevereiro eu estive em um evento que aconteceu em um auditório muito bem climatizado, com o ar refrigerado funcionando a todo vapor. Não podia ser diferente, já que os termômetros, do lado de fora, marcavam inacreditáveis 46, 47 graus. As chuvas de fim de tarde aqui no Rio de Janeiro estão marcando a despedida do verão, portanto as temperaturas estão um pouco mais suportáveis hoje. Um pouco…
Mas naquele dia, pouco depois de sair do auditório onde precisei usar até mesmo um xale para me proteger do frio, e encarar o calorão, soltei as rédeas do pensamento. Não será por falta de conferências internacionais que a humanidade vai deixar de tentar outra forma de produzir e consumir para diminuir os eventos extremos causados pelas mudanças do clima. No entanto, COP após COP, o que vemos é se acirrarem os debates sem muitas chances de alcançar soluções.
Fiquei pensando sobre alienação, palavrinha potente quando lida e entendida sob a visão antropocênica.
Acompanhem comigo: os líderes que tomam as decisões nas conferências estão alienados do ambiente ao redor. Não andam nas ruas como nós andamos.
Imaginem a rotina de um CEO ou de um chefe de estado. Dos tapetes de casa para o helicóptero ou o jatinho, não há chance de pisarem em asfalto, sentirem o bafo de um Largo da Carioca ao meio-dia de fevereiro.
Sem viver esse desconforto brutal que nos deixa no dilema, entre ligar o ar e ver a conta de luz estourar o orçamento, ou ficar num calor danado, os líderes e autoridades somente teorizam. E muitos entram no terreno da retórica inútil: “Quero que meus netos tenham qualidade de vida”; “A urgência climática nos obriga a tomar atitudes em parcerias”; “É preciso cortar imediatamente as emissões de carbono”; “Meu negócio não sobrevive se não for sustentável” são algumas frases recorrentes. Mas a prática ficará sempre para o futuro.
O economista estadunidense Kenneth Boulding (1910 – 1933) foi um especialista em se esforçar para alcançar efeitos práticos nos debates. Basicamente, ele reconheceu desde sempre a finitude dos bens naturais. Tanto que muita gente o põe na galeria dos que iniciaram o atual conceito de sustentabilidade. Disse Boulding, certa vez:
“Aquele que acredita que um crescimento exponencial pode continuar eternamente em um mundo finito ou é uma pessoa insana ou é um economista”.
Claro, foi uma provocação. Mas…
A primeira coisa que vem à mente quando se lê um alerta desses é: “E aí, vamos pesquisar mais sobre petróleo?”. A resposta é sim. A menos que haja uma concertação mundial para acabar com tudo o que, hoje, significa conforto. Incluindo o ar-condicionado que tanto me fez bem naquele dia, naquele evento.
O nosso pulo do gato será estudar formas de baixar essa produção sem causar o desemprego de milhões. Além disso, sim, precisamos produzir de forma consciente, sem degradar tanto o ambiente. Sabemos fazer isto.
Quanto a nós, vamos precisar pensar seriamente em reduzir muito nosso consumo, em mudar muito os nossos hábitos, e tudo isso terá que ser feito, dentro do possível, em conjunto. Uma grande concertação para baixar as emissões verdadeiramente. Àqueles que defendem o uso de tecnologias, vamos agradecer e dizer: está muito tarde para isso. Agora é preciso saber que, como diz Kohei Saito, “a maioria de nós, pessoas comuns que não têm margem para manobras no cotidiano, perderá o modo de vida e terá que procurar desesperadamente uma alternativa para sobreviver”.
Não será um futuro tranquilo, muito menos com qualidade de vida. Vai ser o futuro possível para cada um de nós.

Excelente observação sobre o ambiente dos CEOs, líderes de países e outros influenciadores e as pessoas comuns. Gostei muito da reflexão.
Obrigada, Lena. bjsss