Uma vez mais a nação mais rica do planeta entrega sua liderança ao negacionista Donald Trump. Assim como em 2016, são esperados retrocessos gigantes na área ambiental, e países que se inscrevem nas agendas do setor apenas para marcar presença nas conferências, vão se sentir à vontade para cair fora quando os Estados Unidos começarem a retroceder nos acordos. As consequências não vão demorar muito para surgir, como agora, nos incêndios que estão acabando com casas e pondo em risco vidas no estado da Califórnia.
Claro que não estou dizendo que o fogo já é culpa da política negacionista. Mas em declaração informal, Trump não perdeu tempo para pôr em evidência seu pensamento anti preservação e, como sói acontecer, sua fala é reverberada. Segundo ele, a política adotada pelo governador Gavin Newsom, da California, para tentar salvar uma espécie de peixe chamada smelt, pequenino, que está sendo sugado pelo bombeamento de águas do delta da baía do norte da Califórnia para as fazendas locais, é a grande responsável pelo desastre.
Já os ambientalistas locais vêm alertando, desde há muito tempo, que o fato de os smelts estarem em extinção é um alerta importante para o colapso iminente do delta.
Mas Trump, nas redes sociais, chamou smelt de inútil e o governador de incompetente porque se recusara a assinar uma declaração permitindo que mais água fluísse, do delta, para o sul do estado. Os jornais, no entanto, não apostam que a política implementada por Joe Biden, que permitiu que a água fluísse mas com esforços para proteger os peixes, tenha sido a causadora do desastre.
Os incêndios florestais na área de Los Angeles estão sendo provocados por ventos secos, temperaturas altas e oito meses de seca quase total. Responsabilizar os esforços para salvar um peixe de extinção é querer impulsionar suas ideias negacionistas e deixar claro que o ativismo em prol de politicas que possam considerar a possibilidade de baixar emissões de carbono, de preservar florestas em pé, de respeitar a biodiversidade terá, novamente, um inimigo poderoso.
E assim começamos 2025, ano em que o Brasil vai sediar a Conferência das Partes sobre o clima – COP30. Temo que, diante do cenário que vem do hemisfério Norte, a reunião seja esvaziada ou sirva apenas como palco para os movimentos socioambientais se manifestarem. O que não é ruim, claro. Mas precisamos de muito mais do que isto.
Estava preparando um texto para inaugurar o blog em 2025 com alguns aforismos sobre a nossa civilização na era dos extremos climáticos. Mas fui atropelada pela declaração de Trump.
Fico devendo a vocês, por exemplo, subsídios para reflexão sobre os gastos com guerras versus investimento em melhorar a qualidade de vida; sobre o papel de um dos países mais pobres do mundo, o Iêmen, que se tornou importante adversário no Oriente Médio, barrando navios. Andei pensando também sobre a nossa incrível capacidade de gerar lixo não orgânico, sobretudo em tempos de festas natalinas, onde o hábito de dar “lembrancinhas” grassa pelas famílias.
E terminaria pensando sobre a convocação do prefeito Eduardo Paes, que anunciou um choque de civilidade em seu quarto mandato. Será possível pensar em civilidade sem que os cidadãos consigam, prioritariamente, cuidar de si? De que maneira a administração municipal pode ajudar nesse importante movimento? Distribuição de água para os moradores de rua, por exemplo, pode ser um importante passo, assim como a revisão dos horários de ônibus, que muitas vezes nos deixam esperando muitos minutos. E plantar árvores, muitas árvores, pela cidade.
Mas aceitar a convocação do prefeito também passa por mudança de hábitos. Dos nossos hábitos.
Enfim… como sempre, um turbilhão de pensamentos, de notícias, mais vontade de escrever do que tempo para dedicar ao blog.
No rol das promessas que a gente sempre se faz nessa época, eu ponho essa tarefa, que tanto me faz bem. Escrever, espalhar informação.
Apesar dos pesares, estou com uma sensação de que 2025 vai ser um bom ano. E desejo a vocês saúde, trabalho e alegria.