O ano era 2014.
O governo alemão estava pronto para desativar suas usinas de carvão, rumo a uma energia mais limpa.
Chamou um grupo de jornalistas do mundo inteiro para mostrar a estratégia. E eu fui convidada.
Annalena Baerbock, atual ministra das relações exteriores, era líder do Partido Verde. Fomos ao Parlamento conversar com ela, que nos atendeu minutos após o pronunciamento da então chanceler Angela Merkel. Annalena estava perplexa porque Merkel, no pronunciamento, não falara uma palavra sobre o caminho para a energia limpa.
Passamos quatro dias imersos em informações.
Em Berlim, fiz essas fotos que estão ilustrando este texto. A última foto retrata um artista de rua em frente ao famoso muro.
Na época eu era colunista do G1, a viagem está lá registrada em textos.
As informações, no entanto, se tornaram já obsoletas.
A Guerra da Ucrânia mudou planos, a Alemanha acabou (em abril) de desativar as usinas nucleares. Mas, para cumprir essa exigência dos ativistas, que se preocupam com o fato de o país não ter um único depósito seguro para armazenar resíduos nucleares, precisaram reativar algumas usinas a carvão.
Definitivamente, não estamos vivendo uma era fácil. A humanidade está sendo posta à prova o tempo todo.
Nesta semana (dias 17 e 18) eu participei do Seminário Cidades Verdes, evento bem interessante, que pôs, entre outros, o tema da energia na mesa de debates. Mediei a mesa que discutiu o Hidrogênio, nova opção de combustível na qual o Brasil está apostando muitas fichas.
Nosso país tem, a seu favor, o sol, a água, o vento, e agora tem taambém a chance de, com algum investimento, obter o hidrogênio.
Mas acho que está na hora de lembrarmos também o que me disse certa vez, em entrevista (em 2006), a ex-ministra Gro Brundtland, que liderou os estudos para o relatório Nosso Futuro Comum, onde se cunhou o termo desenvolvimento sustentável:
“A energia será o maior desafio para a humanidade. E será preciso diversificar as fontes, sempre”.
A questão é que, como nosso sistema econômico exige, os investimentos precisam sempre respeitar a ordem do acúmulo para poder dar lucro e, assim, pelo menos em tese, garantir um desenvolvimento que faça bem a todos.
Para acumular, será necessário desprezar a diversidade de fontes.
Mas, que bom que temos pessoas pensando a respeito. Ou, pelo menos, que bom que temos essa percepção.
Guardo dois momentos muito marcantes para mim, dessa riquíssima viagem, onde fiz contato com jornalistas do mundo todo. O Brics (ainda não expandido) estava todo ali.
O primeiro momento foi quando, numa aula ministrada por um ambientalista nas dependências de uma organização não-governamental, ele falava entusiasticamente sobre hidrelétrica, como se fosse a melhor forma de se obter energia, incomparável. Como vocês podem imaginar, ouvir palestras em inglês o tempo todo acaba criando algum desconforto para entender esse ou aquele trecho. Portanto, levantei a mão e perguntei:
“Vocês estão considerando a hidrelétrica uma energia limpa?’
Todos me olharam como se eu tivesse cometido uma sandice, fiquei constrangida. Assim mesmo, lembrei que, para se construir hidrelétricas, é preciso deslocar muita gente, matar alguns rios e peixes. E que isso, para mim, suja o processo.
O segundo momento foi quando, já no fim da viagem, peguei um táxi compartilhado com uma moradora de Colônia, onde estávamos então. Comecei a conversar, expliquei o motivo da viagem, dando o devido valor ao tema. Ela me olhou como se eu tivesse falando platitudes. E revelou a sua prioridade, que ela acreditava ser da maioria da população: na época, o desemprego estava alto no país.
Estamos na era das complexidades, sem dúvida.



