No início deste ano, os ambientalistas – e as pessoas que, como eu, trabalham e estudam o ecosociodesenvolvimento – esperavam grandes comemorações. Afinal, meio século atrás acontecia, na capital sueca, a primeira grande reunião organizada pelas Nações Unidas que se concentrou em questões de meio ambiente. E trinta anos atrás fora convocada a Rio-92, também pelas Nações Unidas. Mega incensada pela mídia, a Rio-92 consagrou o termo “desenvolvimento sustentável” que tinha sido cunhado dois anos antes, quando foi publicado o relatório Brundtland, ou “Nosso Futuro Comum”.

Ocorre que nada disso chegou a mobilizar muito. Em junho, uma tímida reunião lembrou os 50 anos da Conferência de Estocolmo. Debaixo de ombrelones, para se protegerem da chuva fina que caía, algumas autoridades se reuniram para comemorar a data e, como sói acontecer, lembrar que o “mundo ainda vive grandes desafios para se livrar dos combustíveis fósseis”. Seguiram-se quatro sessões plenárias, três diálogos de liderança, centenas de eventos paralelos, webinars e a criação de um site.
Aqui no Rio, a Prefeitura preparou um evento chamado Rio+30, fez lançamento no Museu do Amanhã, mas em julho decidiu cancelar, segundo o site, “para evitar que um evento dessa magnitude interfira no processo eleitoral deste ano”.
Não sei quanto a vocês, mas eu esperava ocasiões em que, de fato, o tamanho do problema ambiental que estamos enfrentando fosse debatido com a urgência que merece. Como se não bastasse, eis que surge uma notícia alarmante: o novo governo – conservador – da Suécia anunciou esta semana o fim do Ministério do Meio Ambiente na formação do Executivo.
“Desde 1987, o país nórdico tem um ministério separado para tratar dos temas ligados ao meio ambiente. Esse legado agora é posto em xeque depois de o primeiro-ministro Ulf Kristersson decidir que a nova responsável pela agenda ambiental, Romina Pourmokhtari, de 26 anos, se reportará ao Ministério de Negócios e Energia, sob comando da vice-primeira ministra Ebba Busch”, diz a reportagem da Bloomberg publicada no site do jornal O Globo do dia 19 de outubro.
Vou poupá-los de mais comentários a respeito desta iniciativa do conservadorismo em destruir o ícone do meio ambiente e tudo o que isto representa.
No momento, estamos às vésperas de mais uma Conferência das Partes sobre o Clima, a COP27, que vai acontecer na cidade de Sharm El Sheikh, no Egito, de 6 a 18 de novembro. Naomi Klein, a ativista ambiental canadense que já apontou como “retórica inútil” – não sem razão – alguns dos debates que recheiam as COPs, acaba de divulgar um artigo no jornal britânico “The Guardian”, em que denuncia: “O Egito de Sisi (atual presidente daquele país) está fazendo um grande show de painéis solares e canudos biodegradáveis antes da cúpula climática do próximo mês – mas, na realidade, o regime prende ativistas e proíbe pesquisas”.
Para deixar claro o tamanho do problema que não está sendo resolvido, sequer atenuado, conferências após conferências, Naomi Klein cita as inundações que deslocaram 33 milhões de pessoas no Paquistão e mataram 1,2 milhão um mês atrás.
Enquanto isto, e aí o comentário é meu, as nações ricas estão envolvidas em guerras de territórios, de quem tem mais poder, e sobre qual cultura vai prevalecer entre as demais. Bilhões de dólares estão sendo investidos em armas, munições e infraestrutura que poderiam aliviar a tragédia em países pobres alvos de eventos extremos.
Este é o tamanho da minha frustração. Alguém compartilha?