Dois anos depois de ter levado o Maracanã à loucura com um show memorável, o roqueiro Sting encontrou-se com o cacique indígena Raoni, da etnia caiapó, em Altamira, no Pará. O ano era 1989, nascia ali uma parceria que correu mundo e décadas. Sting se comprometeu para valer com a luta pela preservação da Amazônia e se mostrou solidário à preservação das terras indígenas, elegendo Raoni como seu parceiro. O roqueiro e o cacique percorreram mundo e conseguiram levar holofotes a uma questão que hoje, infelizmente, continua sendo emergencial.

Muitos anos depois da cruzada de Raoni e Sting, em 2007, a Amazônia ganhou uma efeméride para comemorar. Desde então, segundo a Lei nº 11.621, de 19 de dezembro, o dia 5 de setembro foi instituído como “Dia da Amazônia”, já que foi nesta data, em 1850, que D. Pedro II criou a província do Amazonas.
Faltava, porém, uma comemoração em grande estilo. Não falta mais. A partir deste ano, anualmente o Dia da Amazônia será celebrado com um festival que reunirá atividades culturais, fortemente marcado com músicos que encantam com toadas bem regionais.
Quem sabe um dia Sting se junte?
Enquanto isto, nossa celebração da Amazônia ficará por conta de nomes como Gabi Amaranto, Geraldo Azevedo, BaianaSystem, BK’, MC Carol e MC Rapadura, que se apresentarão a partir de 3 de setembro em shows gratuitos em oito cidades. Com o nome de Festivais Dia da Amazônia 2022 (http://festivaisdiadaamazonia.com.br/), a iniciativa está sendo produzida por diversas organizações socioambientais.
O show de abertura vai ser em São Paulo, no dia 3 de setembro, com Gabi Amarantos e outros convidados. No mesmo dia vai acontecer um show em Belém, e assim vai até o dia 10 de setembro. No site tem a programação toda.
Além dos festivais, está sendo organizada a Virada Cultural Amazônia de Pé (https://virada.amazoniadepe.org.br/), conduzida pela Campanha Amazônia de Pé (https://amazoniadepe.org.br/). A programação da Virada reúne mais de 400 ações descentralizadas por todo o país, como oficinas, cine-debates, rodas de conversa e outras atividades organizadas de maneira autogestionada por seus proponentes.
É bom celebrar a efeméride com com música e arte.
Mas é importante também prestar atenção em alguns dados sobre a região:
– Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia constataram, em estudo divulgado em julho deste ano, que o desmatamento na Amazônia registrou recorde nos seis primeiros meses deste ano.
– Grande maioria do desmatamento é feito por atividades ilegais.
– A pecuária é ainda a principal responsável por 80% da destruição da cobertura florestal do bioma Amazônia, que representa 48% do território nacional, possui 4,2 milhões de km2, e é definido como um conjunto de fauna, flora, florestas úmidas, extensa rede hidrográfica e enorme biodiversidade. E são essas propriedades as principais responsáveis pelo fogo que vem transformando a floresta em pasto.
– A Amazônia Legal tem 5 milhões de km2 e inclui o bioma Amazônia, parte do Cerrado e Pantanal, todos os estados da Região Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão. Ela representa 59% do território nacional.
– Há 50 anos, quando aconteceu a primeira Conferência Mundial do Ambiente Humano em Estocolmo, convocada pela ONU, a população da Amazônia Legal era de cerca de 7 milhões. Hoje é de 28 milhões.
Manter a floresta em pé significa, em primeiro lugar, respeito à vida dessas pessoas. Desmatamento causa mais emissões de carbono, que contribui para as mudanças climáticas. E as mudanças climáticas causam eventos extremos: no caso da Amazônia, seca – que provoca falta de alimentos, migrações em massa.
Mas, se preferirem, podemos falar em economia. Publicado em 2009, na sequência do Relatório Stern – primeiro estudo que aponta vulnerabilidades econômicas por conta das mudanças climáticas – o Economia das mudanças do clima no Brasil, custos e oportunidades mostra que poderá haver redução de 40% da cobertura florestal na região sul-sudeste-leste da Amazônia, que será substituída pelo bioma savana em 2100.
“Uma perda de 12% das espécies de vertebrados da região mais biodiversa do planeta já seria um valor expressivo, mas, quando associado ao desmatamento projetado, o impacto da mudança do clima na biodiversidade leva a um quadro catastrófico de extinção de cerca de um terço das espécies”, diz o estudo, reproduzido por Fabio Feldman em seu livro “Sustentabilidade planetária: onde eu entro nisso?”.
O custo de não se fazer nada é calculado pelos pesquisadores e alcançaria uma cifra de R$ 719 bilhões a R$ 3,6 trilhões para a economia brasileira.
Hoje temos acesso a mais informações de qualidade, o que pode ser uma alavanca para provocar mudanças. E reflexões. É para o que servem as efemérides e as comemorações.


