
Paulo Gustavo me fazia rir. Eu tinha o hábito de acompanhar um de seus programas depois de um dia muito encrencado, quando tudo o que minha mente pedia era relaxar, distrair. E dava certo. Acabava a noite mais leve, ia me deitar com um sorriso no rosto, pensando naquele jeitão meio irônico, meio sarcástico, mas sempre muito engraçado. O personagem Paulo Gustavo.
Depois de sua morte fiquei sabendo que ele também era uma pessoa generosa. Doou milhões de reais para causas que necessitavam. E vai dando uma tristeza que cola na gente. E raiva desse vírus, da pandemia, de tudo o que anda nos cercando nesses tempos sombrios.
Mas ter raiva não é uma emoção razoável num momento desses. Estamos no meio de uma crise grave, que vai ficar para a história, e eu quero reagir de outra forma. É preciso, por exemplo, exercitar a escuta profunda, como ensina o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um dos pensadores mais importantes da atualidade, em seu livro “O futuro começa agora – da pandemia à utopia”, que acaba de ser lançado pela Editora Boitempo.
Boaventura escreve que a humanidade decidiu criar metáforas para tentar entender melhor o Corona Vírus. Uma dessas metáforas é “vírus mensageiro”, e é óbvio que isso quer dizer que é preciso entender a mensagem que o vírus está tentando nos transmitir. Uma delas está transparente, mas apenas para alguns: não é possível continuar numa relação tão devastadora com o ambiente que nos cerca. Destruir habitats de bichos e plantas significa que eles precisarão se transmudar, criar outras plataformas, e que novos vírus poderão surgir a partir dessas mudanças. Isto, para não falar do desmatamento, que também deixa sem casa tais seres minúsculos, carentes de hospedeiros.
As vacinas, tantas forem, são uma das soluções, mas não o único caminho para enfrentarmos a era das pandemias (assim mesmo, no plural) que, segundo Boaventura e vários outros analistas, passará a ser nossa dura realidade daqui por diante. E, nessa trajetória que nos convida a escutar mais profundamente, também está a linha que segue o médico Mauricio Tatar, que se formou na escola tradicional de Medicina e depois, por perceber tamanha distância entre a Saúde que buscava e as doenças que aprendia a ver em seu curso, agregou os ensinamentos de outra Medicina, a oriental, mais ampla e conectada com a saúde integral.
Tive a sorte de auxiliar Mauricio Tatar a reunir em texto os seus pensamentos, o que resultou no livro “Cuidar de Si”, também recentemente lançado pela Mauad Editora. Mauricio e eu começamos a pensar o livro antes do anúncio da pandemia. Praticávamos, então, uma rotina de encontros semanais, nos quais ele falava, eu ouvia e anotava. Quando o Corona Vírus se apresentou, nosso hábito mudou, e nossos encontros passaram a ser virtuais. O que não mudou, muito antes pelo contrário, foi a nossa certeza de que refletir sobre saúde integral, sobre mudanças de hábitos tendo como meta a saúde, provocações que o leitor vai encontrar no livro, são absurdamente oportunas nesse tempo. Mauricio Tatar reitera, a cada vez, que: “Saúde vem de dentro para fora, não se compra em farmácias”.
O livro ensina bastante, sobretudo, como o título demonstra, a que as pessoas possam se organizar melhor, respeitar mais seu corpo. Isto quer dizer muita coisa. Isto nos obriga, sobretudo, a encarar de forma adulta, e sem rodeios, nossas escolhas . Uma, de tentar escutar o que o vírus nos transmite como mensagem, outra, de tentar mudar nossa relação com a natureza e nosso estilo de vida, de consumo.
São tarefas árduas, às vezes muito difíceis, mas necessárias. E prazerosa, se levarmos em conta que o movimento de transformar faz parte da saúde e da vida. Convido vocês, caros leitores, a comemorem conosco o lançamento do livro numa live nesta sexta-feira, dia 14, às 20h. Mandarei notícias com o endereço da live mais adiante. Será um espaço para refletirmos juntos sobre nossos caminhos, sobre nossos desafios, sem uma postura derrotista, mas com uma proposta de caminhos e soluções. Até lá.